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História: De raízes à fundação da Mocidade Alegre

  • 1 de jan.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 23 de jun.

Embora a fundação oficial da Mocidade Alegre tenha sido em 24 de setembro de 1967, sua história começa quase 20 anos antes. São seis décadas marcadas principalmente pelos fortes laços familiares entre seus integrantes e pelo reconhecimento, respeito e carinho por parte de sambistas de São Paulo e também de outras cidades. Essa é a história da minha, da sua, da nossa Mocidade Alegre, a Morada do Samba.


Sambistas da Mocidade nos anos 60
Sambistas da Mocidade nos anos 60

As raízes

No Natal de 1948, chegava a São Paulo – procedente de Campos (RJ) – com um pequeno grupo de amigos, Juarez da Cruz, que em pouco tempo teria participação fundamental no desenvolvimento do Carnaval de São Paulo.

Em 1950 Juarez, seu irmão Salvador da Cruz e mais dois amigos resolveram sair no Carnaval vestidos de mulher. Saíram no sábado e só voltaram na Quarta-feira, para desespero de suas esposas e filhos. Nos anos seguintes o bloco foi aumentando, com a presença de outro irmão, Carlos.

Em 1958, o então prefeito Jânio Quadros iniciou um projeto de recuperação dos bondes e ônibus da capital, com forte publicidade, e os coletivos reformados passaram a circular com os dizeres “Primeiros Bondes Recuperados pela Prefeitura”. Os integrantes do Bloco, num ato de grande irreverência carnavalesca, clamavam pela reabertura dos prostíbulos do Bom Retiro – fechados oito anos antes pelo governador Lucas Nogueira Garcez – onde trabalhavam as “mariposas”. E o bloco saiu com o nome de Bloco das Primeiras Mariposas Recuperadas do Bom Retiro, bairro em que Juarez e seus amigos moravam. Esse é um dos reais motivos para a notória proibição das mulheres no bloco, embora a maior parte dos componentes fosse casada.

Por imposição de um dos componentes do grupo, que se recusou a sair fantasiado de mulher, no ano de 1963, eles saíram de palhaços e percorreram a Avenida São João, onde a Rádio América promovia o Carnaval de rua com exclusividade. Enquanto o bloco passava em frente ao palanque armado próximo ao Cine Paissandu, o locutor Evaristo de Carvalho disse em alto tom: “É um bloco muito alegre, um bloco de sujos, como existem muitos no Rio de Janeiro…”.

Ao sentarem na esquina da São João com Conselheiro Crispiniano, aquela frase não saía de suas cabeças. Estavam no meio-fio, descansando, quando resolveram dar um nome ao bloco. Entre muitas sugestões o escolhido foi Mocidade Alegre, já que ao se apresentarem eles evocaram na lembrança do locutor os melhores tempos do Bloco Carnavalesco Mocidade Louca, de Campos e “alegre” foi o adjetivo usado para apresentá-los ao povo.

Outra grande novidade no Bloco das Mariposas, no mágico desfile de 1963 foi a presença, pela primeira vez, de uma mulher: Neide, esposa do Sr. Salvador Cruz, vestiu a fantasia de palhaço e foi para a avenida.

Juarez da Cruz trabalhava no supermercado Peg Pag desde 1955. No ano de 1964, um dos diretores, o francês François Bellot, casado com uma norte-americana, solicitou a presença do bloco em sua residência no carnaval do ano seguinte.

Em 1965 o bloco, agora com a participação de esposas e filhos, saiu de gregos. Entusiasmados, Bellot sugeriu a Juarez que aumentasse o número de componentes do Bloco e se preparasse para desfilar em Santos, onde a secretaria de turismo preparava um Carnaval de rua organizado – o que não ocorria aqui em São Paulo.

A rede de supermercados colaboraria, solicitando aos seus fornecedores de aves que cedessem as penas, o tema escolhido era índios astecas.

A lavanderia da organização cuidaria dos sacos de aniagem, antes embalagens de batatas, e que agora serviriam para a confecção das tangas. Os funcionários do departamento de Promoção cuidariam dos desenhos das fantasias dos índios latino-americanos.

Em 1966, foi escolhida a fantasia de espantalho. Para a confecção das fantasias foram comprados cetins, tafetás e sedas, recortadas posteriormente em tiras. O dinheiro foi arrecadado a partir de um livro de ouro assinado pelos diretores e fornecedores do Peg Pag e da rifa de um carro. Mas, ao passarem perto dos componentes de uma escola de samba no Ibirapuera, numa promoção da Rádio Record, alguns ouviram um comentário nada delicado. Mais ou menos isso, entre espanto e total surpresa: “Que escola é esta! Toda esfarrapada. Que mau gosto…”

A Questão é que os autores da maledicência não sabiam diferenciar uma escola de um bloco. E que os tais “farrapos” tinham custado mais caro do que suas pretensas luxuosas fantasias. Desde seu início, a Mocidade Alegre provocou os mais diferentes comentários, assim ocorreu em 1966, quando Phillipe Aladin, presidente do Supermercado Peg Pag, convidou o grupo para uma festa em sua residência. Os funcionários que não desfilavam no bloco dividiram-se em duas correntes, uma chamava os componentes de “puxa-saco” outra que criticava o presidente por ter recebido em sua casa um bando de “negros pinguços”.

Em 1967, o tema escolhido foi “Romanos”: os homens vestidos de gladiadores, com fantasias de pele de carneiros; e as mulheres tranças de damascos na cabeça.


A oficialização

A Federação das Escolas de Samba de São Paulo surgiu em meados de 1967, época em que o jornalista Moraes Sarmento convocou todas as escolas, blocos e cordões carnavalescos para organizarem o carnaval de 1968. As reuniões ocorriam no Paulistano, na Rua da Glória. Tendo como base o estatuto dos Acadêmicos do Peruche, foi feito o da Mocidade, que em 24 de setembro de 1967 se transformou em Grêmio Recreativo Mocidade Alegre, tendo como primeiro presidente o Sr. Juarez da Cruz. Além de Juarez, também participaram da fundação seus irmãos Salvador e Carlos Augusto, Ademar Nunes, Ailton de Paula (Gordo), Antonio Ciullada e José Maria do Nascimento.

Também foi fundamental, nessa fase, a participação do casal Mingo e Olga – esta viria a ser porta-bandeira da agremiação, Nely – por muitos anos a secretária da escola – e Laila Cruz, que era irmã de Juarez, Carlos e Salvador e esposa do fundador Antonio Ciullada.

A escolha das cores oficiais teve que obedecer a uma convenção de que seria uma combinação original, diferente das já existentes nas agremiações da cidade. Pedro Tambellini sugeriu o vermelho e o verde, cores complementares que permitem uma grande gama de tons dégradés; como símbolo da escola, criou-se um desenho de tradução literal: um casal de jovens (“mocidade”) tocando e dançando (“alegres”). O pavilhão oficial da agremiação foi defendido até o momento por apenas seis porta-bandeiras: Vera (1967 a 1969), Olga (1970 a 1977), Eneidir (1978 a 1981), Sônia (1982 a 2002) e Adriana (2003 a 2012) e Karina (desde 2013) – todas elas bailarinas incomparáveis, que construíram a tradição da Morada do Samba de trazer sempre grandes porta-bandeiras. De todos os casais de mestre-sala e porta-bandeira que protagonizaram essa tradição, um marcou profundamente a identidade deste quesito no carnaval paulistano: Murilo (que recebeu o título de “O Bailarino”) e Sônia. A graça e a elegância desse casal tornaram-se uma referência – até os dias atuais – para diversos casais de todas as agremiações.

Para o Carnaval de 1968, o tema escolhido foi “Índios do Brasil”. Como havia 180 componentes, mas todos pobres, o único recurso foi apelar mais uma vez para a direção do Peg Pag. Valeu a pena. Havia um carro alegórico representando as selvas brasileiras com uma cascata mantida a partir de um tanque d’água, movida por uma bomba a gasolina. Faróis de milha iluminavam tudo. A Mocidade estava pronta para desfilar às nove horas da noite.

Quando acabaram de chegar próximo ao Lord Hotel, Juarez foi procurado pelos componentes da Federação, que expuseram o problema: o Rei Momo que deveria abrir o desfile num carro dos bombeiros se atrasou e o carro já havia passado.Ele não poderia descer a avenida a pé, afinal era rei.

As crianças, representado os curumins, foram retiradas da plataforma e substituídas pelos quase 200 quilos do Rei Momo. O peso foi tão desproporcional que o motor deixou de funcionar, e com ele a cascata de águas límpidas. Terminada a apuração veio o resultado: Mocidade Alegre em 5º lugar, penúltima escola.

Naquela época os ensaios eram realizados nas ruas de Vila Mariana. Os quietos moradores denunciaram várias vezes os componentes à policia, dizendo serem marginais. O jeito foi transferir os ensaios para um terreno vago na Pompéia de propriedade do Peg e Pag, onde aos domingos se jogava futebol pela manhã, churrasco à tarde e à noite, os ensaios.

O batuque atraia aos poucos os grandes nomes do samba de São Paulo, que foram chegando e transmitindo conhecimentos, Dráusio da Cruz, da Escola de Samba Império do Samba de Santos, começou a ensaiar os passistas e ritmistas. Estreitando os laços entre as escolas, e a Mocidade Alegre ganhava assim a sua nobre madrinha.

Neste ano, 1969, o tema escolhido foi “Na Corte de Nero”. A Mocidade Alegre ganhou o primeiro lugar. Passou assim para o segundo grupo, transformando-se de bloco carnavalesco em escola de samba.

Encontro de compositores na quadra da Morada do Samba (1974): Sentados: Julio Caqui, o Caqui do Pandeiro), Seu Beto, Talismã, Zeca da Casa Verde, João Dionísio, Odair Fala Macio (Odair Ferreira), China, Califa, Jangada, Osvaldinho da Cuíca, Doca, Julinho, Ideval, Caveirinha, Kazinho. Em pé: Jaburú e, com o pavilhão da Mocidade, Nelí.
Encontro de compositores na quadra da Morada do Samba (1974): Sentados: Julio Caqui, o Caqui do Pandeiro), Seu Beto, Talismã, Zeca da Casa Verde, João Dionísio, Odair Fala Macio (Odair Ferreira), China, Califa, Jangada, Osvaldinho da Cuíca, Doca, Julinho, Ideval, Caveirinha, Kazinho. Em pé: Jaburú e, com o pavilhão da Mocidade, Nelí.

2 Comments


Unknown member
há 3 dias

Que orgulho tenho dos meus ancestrais, que criaram a morada que desperta o que tenho de melhor. Sua história carrega e passa a responsabilidade de sempre ser o melhor que posso ser (poder e título vem carregado de responsabilidades), pois assim como me agregam, me passa a responsabilidade de continuar o trabalho pelas próximas gerações.


"Que cada alegria de curtir venha carregado de respeito e sentimento de dever cumprido por nós." "Eu sou Mocidade Alegre!"


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Unknown member
há 3 dias

Escrevi demais e apaguei. Basta dizer que minha imagem reflete o AMOR DA SUA LUZ. TODO PRETO PODE SER O QUE QUISER: EU ESCOLHO SER MOCIDADE!

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